sábado, 10 de setembro de 2016

A ponte de pedra de Joshu.
By Getulio Taigen
Durante a dinastia T'ang, na China, o grande mestre Zen Joshu Jushiro Zenji era abade do templo Kannon-in. Para chegar ao seu templo era necessário cruzar uma ponte de pedra, que era chamada de Ponte de Joshu.
Certa vez um monge visitante perguntou: "Para que serve a ponte de Joshu?"
Ele não estava mencionando a ponte para se chegar ao templo, mas sobre a essência do ensinamento de Joshu.
O mestre respondeu: Essa ponte ajuda pessoas, burros e cavalos a atravessar.
O que o mestre quis dizer, usando uma expressão idiomática da época era que qualquer um podia passar pela ponte e todos seriam recebidos da mesma maneira.
Na vida sempre existirão pessoas as quais nos afeiçoamos e outras não. Há quem diga que isso é produto de karma de vidas passadas, onde as que gostamos foram nossos amigos em outra época e as que não gostamos nossos inimigos, mas isso é conversa para outro dia.
Por uma ponte tudo passa - pessoas boas, ruins, cães, gatos, motos, carros, ladrões, assassinos, invejosos, depressivos, baratas, ratos etc.
A todos a ponte permite atravessar, sem pedir nada em troca, sem selecionar.
Sempre haverá quem diga - "que ponte ruim, que ponte mal feita, difícil de passar", reclamam, batem os pés, dão chutes, urinam na ponte, jogam lixo e até mesmo tentam destruí-la.
Existem alguns que chegam na entrada da ponte e voltam, outros vão até o meio e se perdem olhando a paisagem, poucos a atravessam e desses poucos, menos ainda consegue assimilar, compreender e realizar o que encontram do outro lado – na outra margem.
Mas a ponte continua sendo a ponte.
Poucos a atravessam com gratidão dizendo "obrigado" ou "graças a você pude atravessar".
Seja lá qual for a maneira que atravessem, a todos a ponte permite passar sem fazer discriminação, sem nada exigir, sem considerar.
Um professor é como uma ponte. Se ele pensar: ‘Esse eu deixo atravessar, aquele não... esse é um babaca de marca maior, vai ficar do outro lado, esse é gente boa pode vir.
Um professor que escolhe, que seleciona de acordo com suas conveniências e só dá permissão para os que o elogiam, para aqueles que agradecem, para os talentosos, para os ricos etc. esse decididamente não é um bom professor.
Se fica mal humorado, por causa de uns e outros que coitados se encontram numa fase em que a vida não lhe sorri.
Afinal, colhemos o que plantamos, tudo são causas e condições. Quer saber como está sua vida nesse exato momento, olhe para seu passado. Quer saber como será sua vida amanhã, olhe para o presente. Você produz sua alegria ou sua tristeza.
Na minha função de professor recebo alunos dos mais diversos, com objetivos diferentes, vivências diferentes de classes sociais diferentes, mas não posso nunca me esquecer de que minha função é ser como a ponte de Joshu – permitir que me usem para chegar ao outro lado.
Naturalmente, que um professor ou uma ponte não agrada todo mundo. Cada desagradado tem suas razões, seus motivos. Na maioria dos descontentes, a resposta do porque do desagrado se encontra neles mesmos.
As razões vão desde a falta de talento para aprender, passando pela inveja de que por mais que se esforce não conseguirá chegar a um patamar no mínimo razoável, viajando pela instabilidade emocional e chegando ao mal caratismo. Poderia citar facilmente pelo menos uns cincuenta motivos, mas tenho certeza de que não será necessário.
Uma ponte não consegue, nem tem como objetivo controlar o que todos os que passam por ela pensam sobre ela. Na verdade ela se entristece, pois percebe que ficar discutindo sobre os valores da ponte é o mesmo que dissertar sobre chifres na cabeça de um coelho – coelhos não tem chifres.
O que realmente importa é o que vai encontrar quando atravessar a ponte.
Simples assim.

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