sábado, 10 de setembro de 2016

Kimono - Tudo que você sempre quis saber.

Kimono – O que você sempre quis saber mas nunca te explicaram direito.
Inicialmente é importante saber que quase todos os uniformes das artes marciais e esportes de combate modernos derivam do uniforme utilizado por Kano para prática do judô.
Além de ser o avô dos uniformes, o Judo também foi o primeiro a introduzir o sistema de graduações com faixas coloridas.
É sabido que Jigoro Kano, estudou várias ramificações do tradicional Jujutsu, que não possuía uma roupa específica para o treino, usava-se uma roupa comum do dia a dia.
A roupa que era usada nos treinos de jujutsu eram basicamente compostos adaptados da roupa comum - um casaco comprido, sem mangas ou com mangas curtas, um obi que era uma faixa larga para amarrar o casaco e na parte de baixo uma hakama (um tipo de calça larga até os pés) ou um gobatake (uma espécie de bermuda que ia até as coxas).
A fim de que seus alunos pudessem trocar pegadas firmes, Kano percebeu que um uniforme adequado para prática do judô deveria ter um wagui (casaco) feito de um tecido grosso, resistente às puxadas; o shitabaki (calça) que deveria ser mais comprida, também de material resistente; e o obi, que até então era uma inconveniente faixa larga de seda, passaria a ser uma faixa estreita de algodão.
E foi assim que por volta de 1907, ele desenvolveu o judogui na forma que conhecemos hoje, e desde então, este mudou muito pouco.
As maiores alterações posteriores foram desenvolvidas especificamente para as competições.
Hoje o judogui é um pouco mais comprido e mais largo, com estritas regras a respeito destas medidas para as competições oficiais.
Com a rápida popularização do judô no Japão, as novas artes que surgiram posteriormente como o Karate e o Aikido rapidamente perceberam a necessidade de também padronizar um uniforme para sua prática.
Assim, a partir do projeto de Kano, Funakoshi e Ueshiba fizeram suas modificações, mas mantiveram o conjunto muito parecido. Ou seja, casaco com mangas longas, faixa representando a graduação e calças compridas.
Mais para frente também aderiram a este modelo várias outras artes marciais como o Hapkido, Krav Magá, Taekwondo, o Jiujitsu brasileiro e dezenas de outras.
Antes de Jigoro Kano ter criado o judô, não havia nenhum sistema de classificação de dan/kyu nas artes marciais.
O método de reconhecer o grau de um aluno era através da apresentação de certificados ou pergaminhos emitidos pela escola da arte em que ele treinava.
No princípio do judô, Kano também seguia a mesma regra, mas quando o Kodokan começou a crescer em número de alunos, ele viu a necessidade de dividir os mais velhos e mais experientes dos iniciantes.
Kano, então, separou os alunos em Mudansha, sem graduação; e Yudansha, graduados.
Em 1883 Kano efetivou seus primeiros faixas pretas - Shiro Saigo e Tsunejiro Tomita.
Mas os Mudansha e Yudansha ainda não eram diferenciados pela cor da faixa, somente pelo título.
Isso só aconteceu em 1886 quando Kano permitiu que os Shodan usassem uma faixa preta, que era ainda uma faixa larga de cetim, a mesma usada nos kimonos que os japoneses usavam regularmente (nessa época o judogui moderno ainda não havia sido inventado).
Por volta de 1930 Jigoro Kano criou uma nova cor de faixa para reconhecer as graduações de faixas pretas de alto nível.
Jigoro Kano escolheu reconhecer o sexto, sétimo e oitavo graus da faixa preta com as cores vermelho e branco alternadas – a famosa e tão discutida faixa coral. Por algum tempo essa faixa foi utilizada por um das numerosas federações no Brasil, para diferencia-la das outras. Com o falecimento do seu idealizador a tal faixa coral foi abandonada e voltou-se a utilizar a faixa preta.
Na faixa coral, a cor branca foi escolhida por kano por simbolizar a pureza, e a vermelha pelo intenso esforço efetuado para chegar aquele nível.
Ele também criou a faixa totalmente vermelha para reconhecer 9º e 10º dans.
Em 1935 quando o sensei japonês Mikonosuke Kawaishi ensinava judô na França, teve a percepção de que nós ocidentais precisavamos de algo mais palpável para nos sentirmos motivados num trajeto de tão longo aprendizado, principalmente quando se tratava de crianças e adolescentes, por isso, desenvolveu um sistema de sub graduações chamados Kyu, com cores diferentes para cada etapa.
Estas graduações tiveram a primeira sequência de cores na seguinte ordem:
Branca (6º kyu)
Amarela (5º kyu),
Laranja (4º kyu),
Verde (3º kyu),
Roxa (2º kyu) e
Marrom (1º kyu).
No Brasil por volta da década de 1970 foi criada a faixa azul antes da amarela.
A partir dos anos 2000, com o forte crescimento do judô e com crianças começando a treinar cada vez mais cedo, houve a necessidade de se criar mais sub graduações, como a faixa cinza, e recentemente, em 2011 foram criadas as faixas branca com ponta cinza; cinza com ponta azul; azul com ponta amarela; amarela com ponta laranja.
Quanto as cores do dogui, existe muita especulação e controvérsia.
A primeira delas é – “Por que o dogui tem que ser branco?”. A resposta que sempre se ouviu foi que a cor branca representa a pureza da mente, a cor da bandeira do Japão e as roupas de baixo do samurai em combate que eram brancas.
O problema é que, diferentemente da escolha das cores para as faixas de 6º dan em diante, Jigoro Kano nunca revelou nem deu maiores explicações sobre a razão especial do judogui ser branco.
Acredito que os primeiros judoguis eram brancos provavelmente porque essa era a cor do algodão cru do qual eram feitos.
Assim, os judoguis são brancos até hoje porque os japoneses são tradicionalistas e conservadores.
Em 1986 o judogui azul foi sugerido pelo atleta campeão mundial Anton Geesink.
O objetivo da nova cor era ajudar os árbitros na distinção dos atletas nos combates oficiais e facilitar o entendimento das lutas transmitidas pela TV para os leigos.
Antes dele, os oponentes eram diferenciados apenas por uma faixa vermelha amarrada sobre a faixa principal.
A sugestão do judogui azul foi aceita plenamente apenas por volta de 1997 após muitos anos de contestações, e com a ressalva de que o uniforme azul deveria ser utilizado somente em competições oficiais.
E quanto ao competidor utilizar um dogui azul em treinos ou competições não oficiais?
Alguns acham praticamente intolerável permitir que um aluno participe de um treino de dogui azul.
Por outro lado há senseis mais liberais, normalmente os não japoneses que permitem que alunos treinem com dogis de qualquer cor, até mesmo preto, como é o caso do Jiu Jitsu Brasileiro.
Como sou da escola antiga, não permito o uso de kimonos que não sejam brancos, não somente por uma questão de tradição, mas também por saber que no Brasil, os alunos não compartilham a tradição de ser proibido o uso de um kimono sujo na primeira aula da semana.
Deste modo, sendo o kimono de outra cor que não seja o branco (que se suja facilmente) ele seria usado por mais de um mês, como se percebe nos esportes de combate que facilitam o uso de qualquer cor.
Apesar de saber que existem projetos sociais em que dezenas de crianças compartilham os mesmos kimonos, se fossem todos brancos ficaria absurdamente mais difícil mantê-los limpos.
Realmente, não tenho a resposta para esse impasse, afinal nosso país possui diferenças sociais realmente abissais.
Entretanto, o que tenho percebido nas academias onde os professores foram formados por professores brasileiros, uma queda brutal nas tradições.
Tenho visto com regularidade, kimonos de todas as cores, orações evangélicas no início das aulas, abraços e apertos de mãos ao final, nenhum tipo de cumprimento ao altar dos ancestrais (isso quando possuem um altar), tratamento igualitário á todos independente da graduação, total falta de respeito ao professor presente, nenhuma observância do horário de início e término das aulas, alunos se sentando á margem do dojo de qualquer maneira (sem a parte de cima do dogui, de pernas abertas, deitado etc)
Não sou tão inflexível a ponto de não permitir que um aluno que tenha esquecido seu dogui ou não tenha tido tempo de ir busca-lo em casa fique sem treinar, mas convenhamos que uma coisa é a exceção outra é o descaso com a tradição.
Quando começamos a questionar tudo e todos, corremos o risco de alterarmos a arte na sua essência, perdendo seus valores e tradição.
Por exemplo: Não podemos achar que o dogui branco é obrigatório simplesmente porque Jigoro Kano não achou o azul bonitinho o suficiente, nem o rosa muito fashion.
Os professores modernos devem atentar para que os valores e princípios da arte não comecem a se perder em meio a estas pequenas, porém marcantes distorções.
O cerimonial ensinado junto com a arte, deve ser preservado.
Deve-se iniciar uma aula com as reverências de praxe, devemos nos cumprimentar com respeito, utilizar os nomes dos movimentos em sua forma original etc.
Qualquer arte que faça muito diferente disso, com toques pessoais e arbitrários sobre o que vale ou não vale a pena preservar irá por denegrir e alterar a finalidade da arte marcial, que antes de formar lutadores e guerreiros deve produzir verdadeiros homens de bem.
Oss!

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